No Breakdance: “Nada é impossível”
Em altura de férias, fomos conversar com um dos mais activos membros dos Anti-Gravity, uma crew de Breakdance, com quase dois anos de existência e que, proveniente do Miratejo, já espalhou o seu nome um pouco por todo o país.
Embora ainda bastante jovem, Bboy Jiggy, apresenta já um digno patamar de experiência e profissionalismo, credênciais que lhe permitem ser já um verdadeiro professor da dança da cultura Hiphop – o Breakdance.
De aluno a professor, fica aqui o testemunho.
- Antes de mais, explica-nos como surgiu e qual o significado do teu nome de Bboy.
Jiggy - Normalmente os nomes de Bboys são atribuidos por outros Bboys, mas no meu caso, surgiu do nome do DJ Jiggy, gostei do nome e auto-entitulei-me de Bboy Jiggy.
Se aparecer um Bboy mais Old School, com mais experiência de breakdance, e me der um nome que acha que me deve ser atribuido, deve ser esse o nome de Bboy que devo utilizar, mas eu deixei ficar Jiggy porque é como toda a gente me conhece.
- Quando e como começaste a interessar-te pela prática de Breakdance?
Jiggy - Interessei-me por volta dos meus 13, 14 anos. Eu sempre gostei muito de breakdance, só que só com essa idade é que surgiu mais aquela vontade de querer praticar... mas não havia nada.
Aos meus 16, 17 anos surgiu um Workshop de Breakdance, com a duração de 3 meses, no qual eu me inscrevi. Desde aí formei um grupo que depois acabou e eu continuei a treinar com amigos. Agora tenho o meu grupo – Antigravity - que já existe há um ano e qualquer coisa.
- É com os Antigravity que partilhas a vontade e dedicação a esta vertente. Conta-nos mais do processo de criação e os elementos que originaram a formação deste grupo.
Jiggy - Os elementos que começaram foi o Bboy Ozi, o Bboy Waver e o Bboy Tifari, como eles sabiam que eu fazia breakdance, puxaram-me. E eu como gostava de dançar e estava parado ja há muito tempo, juntámo-nos, arranjámos um nome e formámos os Antigravity. Depois fomos buscando mais pessoas, aquelas que quisessem pertencer ao grupo.... e estámos sempre a treinar, sempre a fazer coreografias, sempre a fazer coisas novas.
- Consideras o Breakdance uma dança perigosa? (no sentido em que o Bboy está facilmente exposto a lesões) Pensas nisso enquanto estas a praticar?
Jiggy - Na minha opinião é perigoso quando é feito sem alguém a supervisionar, ou alguém que saiba minimamente aquilo que faz. Para alguém que está a aprender se calhar é menos perigoso do que estarem a treinar um Headspin sozinho em casa sem nunca ter tido umas bases. Tanto pode ser perigoso como não, até eu como praticante e instrutor estou exposto a esses perigos.
Eu não sei tudo, muitas vezes aleijo-me, mas na grande maioria são lesões mínimas, uma nódoa negra ou uma coisa assim, nada de partir braços ou cabeça, pois tenho as bases mínimas para poder evitar isso.
- Desvenda-nos os principais Campeonatos/eventos em que já participaste.
Jiggy - O primeiro campeonato em que eu participei, foi o primeiro campeonato inter-escolas de Portugal, há cerca de uns quatro anos, no Ponto de Encontro. Foi quando surgiram os workshops de Bboy Project e dois grupos que era o da Casa Amarela e o do Ponto de Encontro. Por acaso, batalhei com um membro da minha equipa, que agora é dos Antigravity, o Álvaro, disputámos o primeiro lugar e ambos estávamos lesionados... acabou por ser ele o vencedor..
Participei nesse e nos “Masters Of Hip-Hop“ de 2002 e de 2003, neste ultimo ficámos (Antigravity) em 2º lugar. Participámos também na convenção de Hiphop que houve na Azambuja, ficámos em 1º lugar porque houve 2 Bboys que partiram para a violência em cima do palco e viram os seus grupos desclassificados, não é que não tenha sido merecido... foi e não foi, é como tudo, acontece.
Mais recentemente participei também no confuso campeonato que houve no Santiago Alquimista.
- Qual a importância do Breakdance na tua vida e no teu bem estar?
Jiggy - No meu bem estar por acaso até é bom: quando tenho muita raiva acumulada ou quando estou muito stressado com algo, consigo canalizar isso para o breakdance. Imaginemos: eu estou stressado com uma coisa qualquer ou estou cheio de raiva, transporto isso para o break onde sou capaz de me sentir com maior equilibrio ou maior criatividade.
Na minha vida, o breakdance tem sido muito importante, é praticamente aquilo que eu faço, dançar e dar aulas.
Eu sei aquilo que quero e já ando a lutar por isso há muito tempo - dar aulas e estar estável. É claro que tem uns altos e baixos mas espero que estabilize.
- Qual o movimento que praticas com mais facilidade e perfeição?
Jiggy - Talvez o Hollow Back ou Hollow Side, em termos de pino é o movimento para mim mais fácil.
- Tens algum movimento que consideres especialmente dificil ou que aches que nunca vais conseguir realizar?
Jiggy - É assim, eu pensava num movimento (o Airtrack) que achava extremamente difícil e que agora consigo fazer, por isso acho que, com um bocado de treino, esforço e atenção nas coisas, nada é impossível.
- Convives no teu dia-a-dia com as restantes vertentes da cultura Hiphop? Em particular Hiphop Português?
Jiggy - Ultimamente por acaso não, tenho convivido mais com a namorada do que propriamente com a cultura Hiphop. Mas, geralmente a cultura Hiphop com que eu estava no meu dia-a-dia era o meu grupo, um writter e um grupo de Hiphop - os Swymmers. Era com todos estes que, praticamente, eu passava os meus dias e noites, estávamos sempre a conviver.
Quanto à música, eu sempre ouvi um bocadinho de tudo, mas tive uma altura em que era só música break para a cabeça. Agora já não oiço tanto breakdance, porque senão quando chega à altura de ouvir a música para a dançar, já não vou ter aquela vontade pois já estou “farto” de a ouvir.
- Com que olhos vês o actual panorama do Breakdance nacional?
Jiggy - Há mais grupos de breakdance, só que também vejo mais gente a fazer break só por estar na moda. Nós, que estamos nisto há mais tempo, conseguimos ver isso com mais facilidade.
Todos os grupos que começam no break por gosto nós damos todo o apoio, os outros, que começam por moda, para nós não passam de pessoas vulgares, falamos-lhes como a qualquer outra pessoa normal. Embora façam todos parte do mesmo, é claro que temos uma maneira diferente de lidar com os grupos de breakdance que realmente o fazem por gosto.
- Sentes algum tipo de atrito ou algo que a teu ver, poderia ser melhorado?
Jiggy - Digamos que os grupos de breakdance têm muita rivalidade entre si, mas essa rivalidade devia ser levada apenas para cima do palco. Fora dele deviamos todos treinar uns com os outros, conviver e demonstrar amizade, para fazer ver à cultura portuguesa o que é o Breakdance. Só que essa rivalidade que há nos palcos, trazem-na cá para fora mesmo em festas e assim.
Na minha opinião, outra coisa a melhorar no panorama geral, era surgirem mais DJ’s de Break, acho que se houvessem mais era possível organizar mais festas com DJ’s variados e não sempre os mesmos. Não quer dizer que os que existam não sejam bons... eles são bons, só que se houvessem mais podiam ajudar à evolução da cultura em si.
- Normalmente quem quer aprender Breakdance, não sabe bem onde se dirigir ou por onde começar. A que aconselharias a alguém que esteja nesta posição?
Jiggy - Como isso já me aconteceu várias vezes, eu normalmente dou sempre a mão e digo um sítio e hora para nos encontrarmos e lhe ensinar uns mínimos sem cobrar nada. Se eu vir que ele tem futuro, se calhar até o integro, com o consentimento de todos, no grupo dos Antigravity. Normalmente é isso que faço, pois escolas de breakdance não há muitas e, eu próprio, estou à espera de começar a dar aulas.
- Da vossa parte (Antigravity), há abertura para ensinar este tipo de pessoas?
Jiggy - Sim, nós treinamos na Casa Amarela às 3ªs 5ªs e sábados das 18:30h às 20h. Eu muitas vezes não estou lá, mas estão lá outros Bboys, e qualquer pessoa que apareça junto de nós a pedir para aprender, estamos dispostos a explicar seja o que for. Nós somos uma família e somos amigos das pessoas, se virmos alguém com dificuldades, agarramos e explicamos até conseguirem fazer melhor.
- Quais são as tuas principais ambições dentro do breakdance?
Jiggy - As minhas ambições no breakdance são treinar, ser mesmo muito bom naquilo que faço, conseguir estabilizar em termos de dar aulas (para poder passar isto para várias “gerações”), ir dançar para fora e pisar o palco da Battle of The Year. Este último para mim, é mesmo a maior ambição.
- Em jeito de mensagem final queres deixar algumas palavras? Principalmente para os Bboys e Bgirls de Portugal.
Jiggy - Em primeiro quero deixar os meus pêsames aos dois Bboys que faleceram em Aveiro. Eu acho que a violência nunca nos leva a lado nenhum, e acho que todos os Bboys, por não conseguirem fazer um movimento, não se deviam deixar ir abaixo. Não conseguem passam a outro e quando tiverem já um grau mais elevado tentem novamente fazer o movimento. Acho que todos os Bboys nacionais deviam continuar a treinar para sermos bons, para termos gosto de batalhar com alguém que sabemos que é bom, isso faz-nos treinar mais. Porque, ao sermos desafiados por um Bboy que é bom, nós pensamos: “Ele é bom, é melhor que eu, mas eu vou fazer para ser melhor”, isto é, nós podemos perder mas, nos dois ou três meses seguintes vamos treinar dia e noite para que na próxima batalha estejamos à altura dele, ou melhor ainda.
ps- postei neste topico porque nas entrevistas nao dava.
Assunto: entrevista bboy jiggy 2004 
Qua Jun 17, 2009 1:00 pm
